quinta-feira, 5 de maio de 2011

O celeiro da União Soviética

No fim da década de 1920, a fome causada pela escassez de carne e grãos ameaçava a nova União Soviética. Em 1921 e 1922, estima-se que 5 milhões de pessoas morreram de inanição e de doenças associadas, como o tifo, cólera e disenteria.

As pessoas sobreviviam com uma ração diária de 200 gramas de pão por dia e mesmo a Ucrânia possuindo terras férteis que alimentavam praticamente todo o país, a comida não era suficiente para todos. Muitos deixaram suas cidades em busca de comida. A população de Moscou se reduziu à metade em três anos. As comunidades rurais tinham alimentos, mas eles eram confiscados pelo governo ditador de Stalin. Não havia incentivo para eles produzirem mais do que o necessário para si próprias. Essas comunidades eram uma constante fonte de aborrecimento para o governo.

Mas o que fazer quando o povo sente fome?  Muito simples. A solução de Stalin foi introduzir uma política de coletivização, ou seja, cada cabeça de gado, cada espiga de milho, cada grão de trigo pertencia ao Estado. Quem tentasse obter algum lucro seria severamente punido. Quem cortasse uma estiga de milho poderia ser, e frequentemente era, condenado a dez anos num campo de trabalho forçados.

Deu certo? Óbvio que não. Esse tipo de política explora a inveja e a cobiça das pessoas, nascidas em sofrimento e vizinhos se voltavam contra vizinhos. A delação implicava em penalidades que iam desde o fuzilamento, a deportação para campos de trabalho ou recomeçar a vida numa nova fazenda, esta última tinha um toque sádico, pois, essas novas fazendas sem exceção eram situadas em terras onde nada podia ser cultivado.

Entre 1930 e 1933 cerca de 2 milhões de pessoas foram deslocadas de suas cidades para campos de trabalho em lugares como a remota Sibéria. Poucas conseguiram voltar. Em dados oficiais a Ucrânia produziu em 1931 18 milhões de toneladas de safras, o suficiente para alimentar seu povo, mas o Estado requisitou 8 milhões de toneladas da colheita. Milhões de ucranianos pereceram, os que sobreviveram sabiam que a escassez de comida era arquitetada artificialmente pela política de Stalin.

O número oficial de mortos na Ucrânia não é conhecido, mas as estimativas indicam que houve entre 5 milhões e 7 milhões de vítimas entre 1932 e 1933. Na União Soviética como um todo, os mortos foram estimados em 14 milhões.

Mas no regime comunista de ferro de Stalin a verdade não pode ser dita simplesmente, ela deve ser mascarada e negada de preferência e foi assim que em 1937 o recenseamento oficial mostrou que a população havia decrescido de modo alarmante em pouco tempo e os responsáveis pelo censo foram colocados entre as vítimas dos expurgos do governo por "se empenharem de modo traiçoeiro para diminuir a população da URSS".

Na vontade de calar a verdade Stalin liquidou a liderança política ucraniana, prendeu e executou os sete ministros mais antigos do parlamento e expulsou cerca 170 mil pessoas das suas cidades. O terror nutria-se da denúncia. A denúncia nutria-se da inveja e a inveja nutria-se da vida alheia.

Conta-se que somente uma mulher denunciou 8 mil pessoas e todas elas foram condenadas à morte. O crime mais grave era ser considerado "burguês". Era uma acusação quase impossível de ser refutada: quase tudo podia ser interpretado como prova de comportamento burguês.

 Morria-se por nada. Não bastava levar uma vida miserável, a pessoa tinha que enaltecer a pobreza e a miséria que o governo lhe impunha.